Ferrovia como fator de competitividade
Cadeias produtivas dos mais diversos setores precisam operar sistemas logísticos eficientes para competir no mercado global e nacional. Na maioria das vezes, a disponibilização da infraestrutura de transportes, papel do Estado, deve preceder a formação de cadeias produtivas competitivas. Contudo, este definitivamente não é o caso de Mato Grosso.
O cenário não é dos melhores. São rodovias sem pavimentação em uma ponta, transporte caro no meio e portos ineficientes na outra ponta. Quer dizer, muita coisa precisa ser feita para avançarmos, agregarmos valor e nos tornarmos eficientes também da “porteira para fora”.
Acreditamos que, em um sistema logístico, a multimodalidade é uma das palavras chave na busca pela otimização e eficiência. Ela poderá fortalecer mais o agronegócio mato-grossense, que sustenta a balança comercial brasileira. O que proponho, neste artigo, é uma análise criteriosa da importância das rodovias e ferrovias para o escoamento da produção.
Entendemos que cada modal de transporte, seja o rodoviário, o ferroviário, o hidroviário e o aeroviário tem suas características, vantagens e desvantagens dependendo do tipo de transporte (passageiro ou carga), do tipo de carga, da distância e das características do mercado. Em geral, os modais precisam coexistir, complementando-se, por isso a necessidade da multimodalidade.
No transporte das principais commodities de Mato Grosso (soja, milho e carne bovina), nas quais somos maiores produtores do país, com produção total na última safra de mais de 60 milhões de toneladas de grãos e rebanho de mais de 30 milhões de cabeças, o sistema logístico é muito beneficiado pela confiabilidade do que é produzido por aqui.
Confiança que nasce do fato de Mato Grosso ter pouco histórico de quebra de safras, se comparado a outras regiões do Brasil e do Mundo. E pela ótima distribuição sazonal da produção: metade é escoada no primeiro semestre (soja), e outra metade no segundo (milho), enquanto o boi é transportado o ano todo.
No entanto, mesmo com todo este potencial, a dispersão da produção inclusive em lugares remotos do Estado e a distância para os portos, muitas vezes chegando a mais de 2.000 km, são certamente grandes desafios.
No modal ferroviário, temos a infraestrutura, mesmo que insuficiente, operando dentro de nosso estado. Com pouco mais de 300 km de trilhos em Mato Grosso, a antiga Ferronorte, hoje Malha Norte da Rumo, representa o mais importante corredor de escoamento de nossas commodities.
A partir, principalmente do terminal de Rondonópolis, inaugurado em 2013, a Rumo escoa 25 milhões toneladas de nossos produtos para o Porto de Santos, e ainda retorna para nosso Estado com fertilizantes e combustíveis.
Por isso, os trilhos da Malha Norte precisam avançar para dentro de Mato Grosso! O governador Pedro Taques vem liderando uma discussão nacional sobre este tema desde o início de 2015, em parceria com o Fórum Pró-Ferrovia em Cuiabá, para que os trilhos finalmente cheguem até nossa capital.
A Rumo tem interesse, mas depende ainda de alguns entraves: primeiro a autorização da antecipação da renovação da concessão da Malha Paulista, que vence em 2028. Segundo a aprovação do ramal de Rondonópolis a Sorriso, passando por Cuiabá. A antecipação da renovação é o item mais complexo e atualmente encontra-se no Tribunal de Contas da União (TCU), sob a relatoria do Ministro Augusto Nardes.
A Malha Paulista inclui o trecho da divisa com o estado de São Paulo até o Porto de Santos, e encontra-se sucateada, necessitando de mais de R$ 5 bilhões em investimentos na sua infraestrutura. Com isso, o crescimento da Malha Norte (localizada em MT) está limitado pelos trilhos antigos da Malha Paulista. Isso porque, para investir agora nos trilhos de São Paulo, a concessionaria Rumo (antiga ALL) alega que precisa de mais prazo. O Governo de Mato Grosso apoia este pleito, porque sabe que só assim os trilhos avançarão no Estado, que receberia novos e vultuosos investimentos com a renovação da Malha Paulista.
De qualquer forma, a Rumo sabe que precisa ampliar os investimentos na ferrovia Mato Grosso-Santos, pois terá competição no futuro. Além da falada Ferrovia Bioceânica, que ainda está longe de ser um projeto.
Ao analisarmos o cenário atual, porém, apontamos a Ferrogrão como uma real ameaça ao domínio da Rumo no Estado. Afinal, a Ferrogrão irá consolidar o novo corredor de exportação do Brasil pelo Arco Norte. Esta ferrovia tem uma extensão de quase 1.000 km e conectará o norte de Mato Grosso ao Pará, terminando no terminal hidroviário de Miritituba, no rio Tapajós. Com investimentos previstos de R$ 12,6 bilhões, esta ferrovia está projetada para escoar na sua primeira fase mais de 25 milhões de toneladas.
Os novos projetos ferroviários aumentarão muito a capacidade de transporte do estado, e, consequentemente, melhorarão nossa competitividade. Além disso, as condições de tráfego da rodovia BR-163 (hoje parcialmente concessionada) melhorarão sensivelmente, reduzindo o fluxo de caminhões pesados que transportam grãos, e diminuindo o número de acidentes e o tempo de viagem de carro.
Agenda positiva
A próxima semana será muito importante para os dois projetos ferroviários aqui abordados. Dia 21 estaremos com uma delegação do Governo do Estado e do Fórum Pró-Ferrovia em Brasília para tratar com os ministros do TCU Augusto Nardes e Raimundo Carreiro sobre a prorrogação da Malha Paulista da Rumo. No dia 22 de novembro haverá realização de audiência pública da Ferrogrão em Cuiabá. E um evento sobre o tema no dia 23 em Nova Mutum.
Não temos dúvidas, a multimodalidade impulsionará ainda mais o escoamento da produção de grãos de Mato Grosso, assegurando uma competividade única no cenário internacional. Para avançarmos, precisamos de projetos arrojados, como este da Ferrovia em Cuiabá, como melhoria das nossas rodovias estaduais quanto dos corredores de escoamento.
O Governo do Estado tem uma agenda clara de prioridades e sabemos que não temos tempo a perder, pois os mato-grossenses tem pressa! Essa é a hora. Estamos lutando para enfrentar a crise e assegurar o desenvolvimento do nosso Estado. Esta é uma agenda necessária e urgente, porque o Governo Federal sabe que precisa ajudar mais o Estado que mais socorre o país.
A situação de Mato Grosso é difícil, e me fez lembrar da mitologia grega. Atlás era um titã que foi condenado por Zeus a sustentar os céus sobre os ombros para sempre. O Estado é forte, assegura com muitas dificuldades, de forma decisiva, os constantes superávits na balança comercial brasileira. Mas já passou da hora de deixar de ser o Atlas do Brasil e receber o apoio devido nessa missão.